A feira do rolo em Caraguatatuba é uma boa
pedida para quem gosta de bisbilhotar curiosidades e matar um pouco do tempo de
uma maneira diferente
A feira
acontece todo domingo na rua Rio Grande do Norte, na entrada do Tinga. Lá se
encontra de tudo, desde uma torneira quebrada, que não serve para absolutamente
nada, a modernos aparelhos eletrônicos, passando por discos de vinil,
equipamentos de pesca, controles remotos de todo tipo, livros velhos, panelas
com tampa e sem tampa, roupas novas e usadas, ferramentas enferrujadas, facas
sem corte, sapato de um pé só e uma série de curiosidades.
Também se
toma um refrigerante gelado, caldo de cana, ou se degusta uma tapioca, em meio
à movimentação das pessoas que já se habituaram todo domingo a comparecer à
feira, como num ritual. Sempre se encontram pessoas conhecidas, algumas
carregando bugigangas nas mãos, arrematadas a preços de banana. Outras fingem
que apenas “visitam” o local, mas acabam denunciando a sua cobiça ao não
resistir a um ou outro apelo e fazem a sua oferta.
Não se pode dizer que o que mais seduz o curioso e provável comprador seja o preço. O preço realmente é tentador em inúmeras oportunidades, daí a desconfiança de muitos de se tratar eventualmente de objetos roubados. Mas não é bem assim. É a raridade e a singularidade de certas peças que aguçam o desejo de muitas pessoas, às vezes uma simples peça de decoração jamais encontrada em outro lugar qualquer.
Na verdade, a maioria das pessoas lá comparece para exercer o papel de uma espécie de “garimpeiro de raridades”. E por ser raridades, também valiosas principalmente para colecionadores. Um rapaz, outro dia, estava eufórico, pois conseguiu comprar um livro escrito por Paulo Machado de Carvalho relatando todos os detalhes dos bastidores da Copa do Mundo de 1958, aquela que lançou Pelé aos 17 anos para o estrelato futebolístico. Detalhe: o livro estava autografado pelo autor, que empresta seu nome para o Estádio do Pacaembu em São Paulo e foi o fundador da TV Record.
Você se
lembra da imponente Enciclopédia Barsa? Há algumas dezenas de anos, antes do
advento da internet, quem tinha uma coleção dessas em casa podia se considerar
um felizardo. Garantia de confiável fonte de pesquisas escolares para os
filhos. Hoje, muitas pessoas ainda possuem essas coleções dentro de casa, que
na verdade apenas atrapalham pelo espaço que ocupam. Nenhuma criança ou jovem,
acostumado às facilidades do computador, quer saber de Barsa alguma.
A
enciclopédia, tão cobiçada no passado, perdeu o seu glamour, assim como outras
do gênero, como a Mirador e a Caldas Aulete. Hoje, ela é encontrada na feira do
rolo, em qualquer banca, vendida completa ou por volume. Um desaforo para
muitos quarentões e cinquentões que chegaram a pagar uma nota preta, em
prestações, para ostentar tais livros em sua biblioteca e assim esnobar ares intelectuais.
O que se vê ali chega a ser um convite à reflexão acerca da futilidade das
coisas materiais e da própria condição humana. Tudo passa nesta vida. O que se
observa ali indica que os tempos são outros, que a vida mudou certamente para
melhor. É dando, portanto, uma voltinha na feira do rolo que se constata
que o tempo passou sem que nos déssemos conta dele...
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