terça-feira, 3 de maio de 2011

Jorge Macedo: a justa homenagem ao caiçara lutador

Jorge Macedo apareceu no “Perfil” do jornal Imprensa Livre deste fim de semana. Quem conhece o Macedão sabe que o registro é mais do que justo: é o reconhecimento de quem muito deu de si por esta cidade.

Jorge Macedo foi por mais de trinta anos um dedicado funcionário da Câmara Municipal de Caraguatatuba, fazendo um trabalho diuturno, mas com muito amor e desvelo.

Aposentou-se em 1986 quando era presidente do Legislativo o vereador Arlindo Yassuo Nakane. Ganhou uma festa, uma churrascada, e seus amigos, todos eles, foram levar seus cumprimentos ao companheiro que se despedia do posto avançado.

Muitos não sabem, mas Jorge Macedo é um grande entendido de churrascos. Faz uma costela de boi como poucos. Quem provou sabe do que se está falando. Paladar insuperável, depois da escolha perfeita do corte.

A grande virtude de Macedão é ser um companheiro de verdade, o amigo de todas as horas. Nunca deixou um chegado seu na mão. Sabe como ninguém curtir as amizades que tem, que são em número incalculável.

Pai, avô e bisavô extremamente amoroso, companheiro de todas as horas da sua eterna namorada Dona Dinorá, a esposa já falecida, amigo leal de todos os momentos, Jorge Macedo só conquistou admiradores.

Nascido em Caraguá em 07 de dezembro de 1923, é caiçara legítimo e sagitariano com muito orgulho. Todavia, orgulho maior ele reserva ao time do coração, o Palmeiras, pelo qual topa qualquer discussão – no bom sentido, é claro. Ainda, temente a Deus, nutre uma devoção imensurável por Nossa Senhora.

A lembrança do Imprensa Livre foi justa. Eis a reprodução do texto da lavra do jornalista Ricardo Hiar:
  
Jorge Macedo: o registro vivo de uma Caraguá que agora só existe na memória


“Não existe praticamente mais nada no mesmo lugar. Até a escola que estudei foi demolida. Acho que só sobrou a Igreja Matriz e o chafariz torneira no mesmo lugar”. 
Esta frase registra a impressão a respeito de Caraguatatuba no passado, em relação aos dias de hoje, sob o ponto de vista de um dos moradores mais antigos da cidade: Jorge Macedo.
Hoje, aos 87 anos, ele chega a sentir tristeza quando pensa nas mudanças ocorridas pelo tempo e de tantas coisas que não foram registradas por nem mesmo pelas lentes de um fotógrafo. Apesar disso, na memória dele, tudo ainda é muito claro, nítido.
Jorge Macedo nasceu em Caraguatatuba em dezembro de 1923, numa casa no centro da cidade onde viviam seus pais, também caraguatatubenses, Pedro Evangelista de Macedo e Helena Santana de Macedo. Ele era que seus outros três irmãos: Benedito, Manuel e Antonio.
Desses, apenas Jorge e Antonio são vivos. Macedo conta que aos dois anos, seus pais mudaram do centro para uma casa no bairro Caputera. Na época, uma grande área nessa região pertencia à família Macedo, desde o Jaraguazinho até um ponto próximo da praia.
Apesar disso, grileiros que chegaram à cidade, segundo ele, foram levando seus familiares na conversa e acabaram tomando conta de tudo. Hoje, só restou uma pequena área, onde Jorge e alguns familiares residem.
Na ocasião da infância de Macedo, tudo era muito diferente conforme relembra. As pessoas que viviam em Caraguatatuba contavam apenas com dois tipos de transporte para se locomoveram para outro lugar: barco e cavalo.
A primeira opção o meio mais comum e que trazia até mesmo os mantimentos, normalmente vindos de Santos. “Uma embarcação de Santos parava próximo aqui da cidade e um barco ia trazer os alimentos para os demais moradores num ponto próximo onde está hoje o Banco Bradesco”, relembrou.
As estradas praticamente não existiam e os poucos acessos se davam sentido São Sebastião. Aos 14 anos Jorge Macedo perdeu o pai e por isso precisou trabalhar para poder ajudar a cuidar dos irmãos mais novos.
Seu primeiro trabalho foi como pinante, nome que era dado para quem trabalhava nas estradas. O rapaz na época ajudou a abrir o caminho, que passava perto da praia e ligava a região central de Caraguatatuba até o bairro da Enseada, em São Sebastião. Foram anos de atuação para que esse trabalho fosse concluído.
A juventude
Desde que começou a trabalhar, Jorge não parou mais. Apesar de ter estudado até a terceira série do ensino fundamental, ele garante que a vida lhe ensinou muita coisa que o ajudou a conquistar seus objetivos e a constituir e manter sua própria família.
Depois de parar a atuação como pinante, ele lembra que teve outra oportunidade, trabalhar numa fazendo. Isso porque ingleses chegaram na cidade para cultivar uma fazenda e lhe deram uma oportunidade no local. Trata-se da famosa Fazenda dos Ingleses, hoje área da Serramar.
“Sinto saudade da época em que trabalhava com os ingleses. Eu saía cedo levando a “bóia” na cintura e fica lá o dia todo. Fazia poda nos pés de laranja, roçava, fazia enxertos nas árvores e retirava as laranjas podres. Eram bons tempos”, comenta saudosamente.
Após a atuação na fazenda, sua próxima atividade foi trabalhar numa tamancaria e sapataria. Porém, pouco tempo depois ele acabou deixando o litoral em prol do país: foi servir o exército.
A princípio foi chamado para se apresentar na cidade de Lorena, mas depois de quatro meses no local, ninguém havia dado uma definição para os novatos de onde realmente serviriam. Jorge Macedo, que não gostava de enrolação e queria servir logo, não se intimidou e foi diretamente ao coronel para chamar-lhe a atenção. “Queria que eles decidissem: ou servimos ou vamos embora”, comentou.
Ele relembra que o coronel chegou a estranhar a coragem em falar com ele sobre o assunto, mas resolveu a situação e o enviou no dia seguinte para o quartel de Mato Grosso. “Quando cheguei lá já sabia tudo o que tinha que fazer, porque no tempo em Lorena eu ficava prestando atenção nos outros. Com isso, em pouco tempo me colocaram como cabo instrutor. Depois fui para a ordenança e cuidava das coisas do tenente. A gente revezava o cavalo e o carro durante o trabalho”, ressaltou.
No tempo em que esteve nas Forças Armadas aconteceram momentos em que os profissionais fizeram comemorações que contaram com boas coisas que só existem no litoral.
Em algumas ocasiões o irmão de Macedo mandou pelo Correio ovas de Tainha e Camarões para o grupo. Como o destinatário era o exército, mesmo tendo que percorrer um longo caminho, indo de barco até Santos e depois de avião até o Mato Grosso, os pedidos chegavam em pouco tempo.
Após dois anos de serviço no exército, Macedo voltou para casa. Foi novamente morar com a mãe, reiniciou o trabalho na sapataria e depois de alguns meses se casou.
Algumas das habilidades aprendidas por Jorge no Exército foram muito úteis em Caraguatatuba tempos mais tarde. Ele acompanhou de perto tudo o que ocorreu com a catástrofe de 1967. Conseguiu levar a família para um lugar seguro e passou dias ajudando vítimas, aplicando vacinas e distribuindo alimentos aos atingidos pela destruição.
De uma coisa ele diz que sente orgulho e nunca se arrependeu: de ser católico e ter tido a oportunidade de servir na igreja.
O tempo e suas mudanças
“Caraguá hoje é uma metrópole. Não tem comparação com o que já foi no passado. Mas naquela época todo mundo se conhecia, éramos felizes assim”. Dessa forma o aposentado relembra as marcas que o tempo deixou no município.
Além das estradas que foram surgindo, das novas casas e construções, muitos locais foram mudando com o passar do tempo em Caraguatatuba. Muitos dos amigos que ele conheceu ao longo da vida, já não estão mais nesse mundo, mas são conhecidos por muitos, já que nomeiam várias ruas e praças públicas de Caraguatatuba.
Até o curso do Rio Santo Antonio foi desviado com o tempo, de acordo com Jorge Macedo. O aposentado lembra de até repartições públicas que mudaram de endereço.
A prefeitura, por exemplo, funcionava no prédio em que hoje está uma farmácia no centro, próximo a Praça do Coreto. Aliás, o coreto ainda não existia, mas o chafariz torneira sim. A grande torneira que está localizada até hoje na praça não estava lá à toa. Era de lá que os moradores recebiam a água. Muitos iam até o local com baldes para enchê-los e abastecer os lares.
Com o passar do tempo a coisa ficou um pouco bagunçada e já com a possibilidade de distribuir a água, a prefeitura assumiu essa função e fechou a torneira. O cemitério era localizado ao lado da Igreja Matriz e havia um Clube do time XV de novembro, numa área onde hoje é o Calçadão.
Ainda quando jovem, era comum entre os rapazes da Caraguatatuba uma longa caminhada em busca de diversão. Eles se reuniam e andavam cerca de cinco horas pelas estradas e “picadas” da região até chegaram ao bairro São Francisco, em São Sebastião. Lá, eram realizados bailes que reuniam a juventude. Para Macedo, o sacrifício valia a pena.
Mas não foi num baile que Jorge Macedo encontrou o amor de sua vida. Isso aconteceu em Caraguatatuba mesmo, de uma forma inesperada. Ele conta que sempre passava pelas ruas da cidade e numa dessas caminhadas encontrou Dinorá Moreira Macedo. Ele estava na Barra do Rio Santo Antonio (outro local que não existe mais) e avistou a bela moça cuidando de crianças na pensão da Rita.
A vontade de falar com Dinorá foi tanta, que para chegar até ela ele atravessou o rio, com água até a altura do peito. Desde a primeira conversa ele já sabia que essa seria a mulher de sua vida.
Ela estava com 18 anos, quando após sete meses de namoro, eles se casaram. Dinorá era de São José dos Campos e tinha vindo para Caraguá com familiares para trabalhar.
Depois de casados, eles foram morar numa casa alugada na rua Irmão São Francisco e de lá, seguiram para uma chácara no Ipiranga. “Lá nós tínhamos de tudo, até ganso.
Fazíamos festas, matávamos galinhas e bebíamos com a turma. Era muito bom”, comentou. Após um tempo nessa casa, ele construiu sua própria casa no mesmo terreno onde passara a infância, no Caputera.
É lá que ele vive até hoje e passou muitos dos 53 anos de casado com Dinorá. O casal teve sete filhos, dos quais cinco vivem: Agda, Ermenegildo, Fátima, Maria e José Dimas.
Depois de casado, Macedo trabalhou por um ano como jardineiro na Prefeitura e depois, por ter feito alguns serviços para um político da época, Plínio Passos. Este foi candidato a vereador e por ter ganhado disparado, tornou-se automaticamente o presidente da Câmara.
Ele convidou Jorge para compor o quadro de funcionários do Legislativo, naquela época ocupado por apenas quatro pessoas (Jorge era o quarto funcionário). Nesse trabalho, desenvolvendo diversas funções, ele se aposentou em 1986, após 30 anos de atuação.
Hoje a família já cresceu bastante e são 14 netos e oito bisnetos. Em 2003 Dinorá faleceu e deixou bastante saudade ao marido. “Nunca passei um desgosto com ela e até hoje rezo todos os dias pela minha esposa. Vou fazer isso até o dia em que morrer”, finalizou.

No dia 19 de abril, por ocasião do aniversário de Caraguatatuba, Jorge Macedo foi homenageado na Câmara Municipal com o recebimento do título de Gratidão Caiçara. Veja a matéria... 

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