Cachorros podem ou não viver no
apartamento junto com seus donos? Condomínios podem proibir cães em suas
dependências? Existe um limite de tamanho permitido para cães dentro de
apartamentos?
Por Lauro
Chamma Correia (Jusbrasil.com.br)
Este
assunto é constantemente abordado por muitas pessoas e às vezes podemos ficar
sem resposta ou sem saber o que fazer em determinadas situações. Então, leia
este texto até o fim para saber tudo sobre seus direitos e deveres e também o
que fazer quando a situação não se resolve através de uma conversa informal.
Vivemos
uma geração onde cada vez mais
os pets são considerados parte
da família. E assim, a procura
por uma residência ou permanência em condomínio podem se tornar um pesadelo e
muitas disputas intermináveis pelo direito de o cão ficar na casa acabam tendo
como campo de batalha os tribunais. De um lado são os inquilinos ou moradores e
de outro os proprietários de imóveis, síndicos e administração de condomínios.
Afinal, condomínios podem proibir
animais?
Não.
A verdade é que nenhum síndico ou proprietário pode proibir a permanência de
cachorros em apartamento ou casa. Isso faz parte do seu direito de propriedade.
Mesmo que as regras do condomínio proíbam de alguma maneira a presença de cães,
elas não podem ir contra e não são maiores que a Constituição
Federal, código maior do país, ou o Código Civil.
Apenas
um juiz pode, depois do tutor apresentar sua defesa, ordenar a retirada do
animal. Essa decisão deve ser tomada apenas depois do processo conter provas inequívocas
e o animal de fato apresentar algum perigo ou causar desassossego.
Se o
animal está há 5 anos morando na propriedade e nunca houve nenhuma reclamação,
não é possível mudar as regras do
condomínio no meio do caminho, esse é um direito adquirido. E mesmo que
seja votada uma alteração na convenção do condomínio, assim proibindo a
permanência de animais, essa medida não
poderá ser aplicada ao seu pet.
Os
tutores que não estiverem satisfeitos poderão perfeitamente procurar a justiça
para resolver suas disputas. Na maioria dos casos, os juízes favorecem a permanência do animal.
Em
contrapartida, é importante que o tutor
seja responsável e garanta que a presença do cão não represente riscos à
saúde, segurança ou incômodo comprovado ao sossego dos vizinhos.
Portanto,
sim, pets podem morar em
apartamento! Seja de porte pequeno ou porte grande. O que realmente determina
uma boa convivência e a possibilidade de ter cachorros em apartamento são o comportamento e criação deles.
Direitos do Tutor
– A Constituição
Federal assegura o cidadão ao direito de propriedade (Art. 5º, XXII
e Art. 170, II), ou seja, o condômino pode
manter animais em casa ou apartamento, contanto que a permanência deles não atrapalhe ou coloque em risco a
vida de outros moradores;
– Proibir visitantes de entrarem com
seus cães é configurado constrangimento ilegal (Art. 146
do Decreto lei Nº 2.848/40). Os
animais visitantes devem seguir as mesmas regras dos pets que vivem no local;
–
Cães dóceis e que não representam perigo a terceiros não precisam usar focinheira. A obrigação desnecessária da focinheira, ainda
mais em pequeno porte, desrespeita a dignidade do animal e é configurado
crueldade e crime de maus tratos (Art. 32 da
Lei Nº 9.605/98 e art. 3º, I do
Decreto Nº 24.645/34);
– De
acordo com o Art. 5º da Constituição
Federal, o direito de “ir e vir” garante que o condômino ou
visitante possa utilizar o elevador
com seu animal;
–
Obrigar qualquer pessoa a utilizar escadas
com o animal é considerado constrangimento ilegal (Art. 146
do Decreto-lei Nº 2.848/40) e maus
tratos (Art. 32 da
Lei Nº 9.605/98 e art. 3º, I do
Decreto Nº 24.645/34). Deve-se lembrar das pessoas que não podem, por motivos
físicos, utilizar as escadas. O tutor deve manter o cão em uma guia curta, para que o mesmo não se
aproxime de outras pessoas quando dentro do elevador;
– O
condomínio não pode obrigar o
tutor a levar o animal no colo.
Isso impossibilitaria no caso de cães de grande porte e no caso de tutores que
não podem, por motivos físicos, carregar o cão. Essa situação também se aplica
no tópico de constrangimento ilegal
(Art. 146
do Decreto-lei Nº 2.848/40);
–
Contanto que o animal não
represente um risco à saúde, sossego e segurança dos demais, o animal poderá transitar nas áreas comuns do
prédio. Impedir o acesso fere o tópico do direito de “ir e vir” (Art. 5º da Constituição);
–
Casos de ameaças (como envenenamento) ou proibições ilegais (como não dar
acesso ao elevador), devem motivar boletins de ocorrência contra o autor por
configurar constrangimento ilegal
(Art. 146
do Decreto-lei Nº 2.848/40) e ameaça
(Art. 147
do Decreto-lei Nº 2.848/40).
Deveres do tutor
– O
tutor deve manter o cão próximo ao
corpo, utilizando uma guia curta, nas áreas comuns do prédio. É
responsabilidade do tutor garantir a segurança
de todos (Art. 10 da
Lei Nº 4.591/64 e Art. 1.277,
Art. 1.335 e Art. 1.336,
IV da
Lei Nº 10.406/02);
–
Cães de porte grande ou que apresentem comportamento agressivo, devem utilizar focinheira sempre que estiverem nas
áreas comuns do prédio (Art. 10 da
Lei Nº 4.591/64 e Art. 1.277,
Art. 1.335 e Art. 1.336,
IV da
Lei Nº 10.406/02);
– Crianças pequenas não devem ser deixadas com cães e sozinhas nas áreas comuns do prédio;
– Respeitar o próximo é a chave para a boa
convivência. Portanto, se você conhece alguém que tem medo ou não gosta
de cachorro, evite que o seu cão
tenha contato com a pessoa, por exemplo, esperando o próximo elevador. No
geral, mantenha sempre o seu cão em guia curta, enquanto ele estiver nas áreas
comuns do prédio, e não deixe que ele se aproxime de terceiros, a não ser que
tenha autorização. (Art. 10 da
Lei Nº 4.591/64 e Art. 1.277,
Art. 1.335 e Art. 1.336,
IV da
Lei Nº 10.406/02);
– É
responsabilidade do tutor limpar todos
os dejetos de seu cão nas áreas comuns. Dejetos que não apenas sujam as
áreas comuns, como também incomodam outros condôminos e são potencialmente
perigosos em transmissão de doenças (Art. 10 da
Lei Nº 4.591/64 e Art. 1.336,
IV da
Lei Nº 10.406/02);
– O
tutor deve manter também as áreas
privadas de sua casa limpa, impedindo o mau cheiro e garantindo a saúde
do animal. Não fazer isso pode ser considerado crime de maus tratos (Art. 32 da
Lei Nº 9.605/98 e art. 3º, II do
Decreto Nº 24.645/34);
– Latidos intermináveis e barulhos podem
tornar a vida do seu vizinho um inferno. É de responsabilidade do tutor que a
presença do cachorro não
prejudique a vida dos demais e o bom funcionamento do local. (Art. 42, IV do
Decreto-Lei Nº 3.688/41). Para esse
problema, um especialista em comportamento deve ser chamado e uma conversa com
os prejudicados é o primeiro caminho, com o intuito de avisar sobre medidas
tomadas para que haja uma mudança;
–
Ainda sobre os barulhos e ruídos que incomodam, as unhas do cão entram nessa lista de repetições insuportáveis. O
sossego deve ser respeitado, caso contrário, o tutor pode chegar a ser preso.
(Art. 42, IV do
Decreto-Lei Nº 3.688/41).
A busca de um meio-termo na convivência
Conhecer
os direitos e deveres seus e de seus cães é fundamental, não só para essa situação, mas para a vida. A questão
é que o ideal é sempre buscar um meio-termo e uma convivência amigável, com
vizinhos, síndicos e administração de condomínio.
Esteja
ciente dos possíveis problemas que o seu cão possa estar causando e se as
reclamações têm ou não embasamento. Se sim, fingir que o problema não existe e
permitir que o bem estar do seu vizinho seja prejudicado não pode ser uma opção. Então, aja e
deixe claro para os demais que você está trabalhando na melhoria da situação.
Em
casos de problemas comportamentais, chame um especialista em comportamento e peça o auxílio de um médico veterinário. Esteja sempre
disposto oferecer um atestado comprovando a saúde de seu animal. Afinal, todas
essas melhorias são essenciais para todos:
você, seu animal, seus vizinhos, amigos e todos que convivem com vocês.
No
caso das reclamações partirem de pessoas intolerantes, que não desejam
conversar, e que simplesmente não querem a presença do cão, o auxílio de um advogado pode ser necessário.
Para
os casos em que o síndico e/ou a administração do condomínio não permitam a
presença de algum animal sob tutela de um morador, existem algumas ações que
podem ser feitas. Leia a seguir.
O que fazer em casos de proibição de
cachorros e problemas com a administração do prédio?
1-
Uma conversa informal para que
os vizinhos e síndicos estejam cientes
que o tutor tem o direito garantindo pela Constituição
(Art. 5º, XXII e Art. 170, II);
2- Se
a conversa informal não for suficiente, o condômino deve registrar queixapor constrangimento ilegal (Art.
146
do Decreto-lei Nº 2.848/40) na
delegacia de polícia civil mais próxima;
3-
Entrar com ação judicial, de
natureza cautelar, com o intuito de liminar a permanência do animal sob sua
guarda e desqualificar a decisão do síndico ou deliberada em assembleia
condominal. O mesmo caso deve ser feito em proibições de animais visitantes;
4- Em
proibições de trânsito em elevador,
deve-se entrar com uma ação criminal por maus tratos (Art. 32 da
Lei Nº 9.605/98 e art. 3º, I do
Decreto Nº 24.645/34). O mesmo deve ser feito com o uso obrigatório da focinheira quando desnecessários, em
animais de pequeno porte e que não apresentam risco para os demais;
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