A escassez de água atingirá 4 bilhões de pessoas no mundo em
2025, ou seja, duas em cada três pessoas sofrerão pela falta de água potável,
poluição e conflitos em decorrência do uso restrito. O alerta é da Organização
das Nações Unidas (ONU), que declarou 2013 Ano Internacional de Cooperação pela
Água. Este tema foi exposto pela engenheira sanitarista Denise Formaggia, na
Semana do Meio Ambiente, dia 5 de junho, em São Sebastião.
Denise é membro do Comitê de Bacias Hidrográficas do Litoral
Norte (CBH-LN), e integra a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e
Ambiental (ABES). “A água é vital aos seres humanos e ao desenvolvimento do
planeta”, frisou Denise, na palestra “Cooperação pela Água, uma agenda urgente
para o Litoral Norte”. Ela explica que a campanha mundial da ONU se deve à
fragilidade do ciclo hidrológico (movimento contínuo da água nos oceanos, solo
e na atmosfera) ameaçado pelos impactos das atividades humanas no mundo com
cerca 7 bilhões de pessoas. Deste total, 1 bilhão de pessoas não têm acesso à
água potável segundo dados da organização mundial.
Denise falou sobre os cinco grandes objetivos e estratégias
deste programa: Conscientizar sobre a importância, os benefícios e os desafios
da cooperação em questões relacionadas à água; Gerar conhecimento e capacitação
em prol desta cooperação; Provocar ações e soluções inovadoras; Fomentar
parcerias e diálogos como prioridade máxima mesmo após 2013; e Fortalecer a
cooperação internacional pela água para abrir caminho ao desenvolvimento
sustentado, atendendo necessidade de toda sociedade.
Denise ainda se referiu às mensagens desta campanha também
divulgadas pelo mundo: “A Cooperação pela Água é crucial para a erradicação da
pobreza, igualdade social e de gênero”; “A Cooperação pela Água gera benefícios
econômicos”; “A Cooperação pela Água é fundamental para preservar os recursos
hídricos e proteger o meio ambiente” e “A Cooperação pela água constrói a paz”.
Crise e conflitos
Denise lembra que em todo mundo, onde não há água
disponível, são as mulheres que seguem em busca deste recurso, enfrentando
todos os problemas sociais e de saúde, percorrendo quilômetros de distância de
seus lares, e muitas vezes sem encontrar água adequada para consumo. Ela também
evidencia o fator de desenvolvimento econômico já que os segmentos
empresariais, industriais ou públicos não conseguem se desenvolver sem fontes
de água. A engenheira também lembrou que um dos maiores problemas ligados aos
conflitos armados mundiais está relacionado à água. “Na China, 90% do abastecimento de água
provém do Tibet; o Rio Jordão é crucial para Israel; existem brigas imensas
entre Estados Unidos e México por causa do Rio Colorado, que atravessa o Grand
Canyon. O Sudão e o Egito vivem as turras por causa do Rio Nilo”.
Denise observa que o Brasil é muito rico em recursos
hídricos. “Temos a Bacia Amazônica, que representa 16% de todas as águas
fluviais do planeta”. Mas ela lamenta que a água ainda não seja bem
distribuída, o que gera graves conflitos, além disto, ocorre a poluição.
Populações rurais do Nordeste vivem em extrema pobreza, pela falta de gestão
política quanto aos recursos hídricos. “Entre os estados da Bahia e Rio Grande
do Sul, onde temos grande parque industrial, também temos o maior problema de
poluição dos recursos hídricos. E o Brasil também exporta água, por meio dos
produtos aqui produzidos”. Conforme Denise, no Estado de São Paulo, há sérios
conflitos quanto ao uso de água. “A Região Metropolitana de São Paulo recebe
água de Minas Gerais, o Comitê de Bacias do Piracicaba também está sempre em
negociação com o Comitê de Bacias do Alto Tietê” na gestão dos recursos
hídricos de São Paulo.
Litoral Norte
Denise afirma que o Litoral Norte é riquíssimo em água, mas
da mesma forma há problemas de distribuição. “A região central de São Sebastião
é abastecida pelo Sistema Porto Novo da Sabesp, em Caraguatatuba. Temos na
região 34 bacias, nascem na serra e deságuam no mar, e com a vantagem de que
não há lançamento de esgoto acima de nossas águas”. De acordo com a engenheira,
a demanda hídrica (volume necessário para abastecimento) cresce em razão do
aumento populacional. Assim, diminui a disponibilidade hídrica. “Em São
Sebastião, temos os seguintes sistemas operados pela Sabesp: Porto Novo, São
Francisco, Guaecá, Toque-Toque Grande, Maresias, Boiçucanga, Barra do
Una/Juquehy, Boraceia, além do Sistema Cristina (Barra do Una) sem operação
plena por conta de impasse judicial, envolvendo captação de água”. Ela cita
como exemplo de cooperação pela água o Sistema Porto Novo em Caraguá, cuja
captação se dá no Rio Claro da bacia do Rio Juqueriquerê, 60% de água deste
sistema abastece os imóveis entre a Costa Norte de São Sebastião até o bairro
de Barequeçaba, região central do município.
Captações
clandestinas
Entre 2005 e 2008, a Secretaria de Saúde do Estado coordenou
pesquisas em locais que não contam com abastecimento da Sabesp. No Litoral
Norte, conforme Denise, foram constatadas 406 captações alternativas. Em São
Sebastião, 114 destas captações foram localizadas, 106 delas sem nenhum tipo de
tratamento, abrangendo 2.994 imóveis e 13.210 famílias – população fixa e
flutuante (moradores, turistas e veranistas).
As estimativas devem estar desatualizadas já que o número de habitantes
e a ocupação desordenada crescem muito em toda região, mas os índices da época
já mostravam grave problema de saúde pública.
No caso de São Sebastião, a maior parte das captações
alternativas, segundo Denise, foi constatada na Costa Sul, servindo a
condomínios, restaurantes e hotéis. Ela mostrou imagens de captações
clandestinas feitas por inúmeras mangueiras de pequeno a grandes diâmetros de
tubulações nos quatro municípios da região. “Um dos problemas do sistema de
abastecimento de água do São Francisco refere-se às captações clandestinas de
água acima da captação da Sabesp, o que pode afetar volume e qualidade da
água”. Ela explica que o sistema São Francisco, no bairro de mesmo nome em São
Sebastião, é integrado ao sistema Porto Novo para abastecimento à região
central desta cidade. No São Francisco, provém de curso d´água no Morro de
Abrigo.
Conforme Denise, “tudo isto nos mostra a grande urgência de
desencadearmos as ações de Cooperação pela Água porque muitas pessoas ainda não
têm água potável. Preservar e recuperar nosso patrimônio hídrico estão entre os
maiores desafios que temos, considerando este novo ciclo econômico na região”,
ela alerta. “Algumas ferramentas para atingir este objetivo são conhecimento,
troca de experiência e fraternidade, que está na base de todos os princípios do
Ano Internacional de Cooperação pela Água”. A ONU designou 22 de março de 1993
o primeiro “Dia Mundial da Água” e 2005 a 2015 a “Década Internacional para a
Ação: Água, Fonte de Vida”.
Portal do Comitê
de Bacias Hidrográficas do Litoral Norte
Caraguablog/JFPr
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