Numa bem-humorada crônica, no consagrado estilo "ridendo castigat mores"*, o jornalista Ari Euqis, do jornal CanalABERTO, de Ilhabela, dá uma cutucada num vereador da cidade pela forma como ele atacou determinada mulher da cidade ligada a uma organização não-governamental, preconceituosamente mandando-a lavar roupas. Um mineirinho, fictício ou não, é quem deita falação. A crônica foi publicada no dia 18 e vale a pena conferir. Ei-la:
Repúdio, pode ser, sim!
Cautela e caldo de galinha, sobretudo respeito, nunca fizeram mal a ninguém
Cautela e caldo de galinha, sobretudo respeito, nunca fizeram mal a ninguém
Todo bom mineiro sabe disso. Quando o a sopa está quente, a fumaça levantando do prato, mineiro que se preza começa a tomar a sopa pela beirada. Ele não sai de casa sem botina, polaina ou bota, porque em campo aberto, no mato ou na vegetação rasteira as cobras passeiam – gostam de sol quente -, terra seca e se transformam em perigo iminente, até no sapezal. Agora, respeito é coisa que mineiro não despreza. Ouve sempre e quando escuta alguma palavra atravessada, engole seco, espera a vez, sai de mansinho e, a qualquer hora, o troco está pronto para ser dado. Sempre bem dado, mesmo que seja com desprezo.
Dia desses tinha um mineirinho sentado num canto da Câmara Municipal de Ilhabela ouvindo atentamente a ocupação da tribuna por alguns vereadores. Num determinado momento, olhando para trás pude ver a fisionomia do bom mineiro, enrubescida e tristonha a um só tempo. Ele engolia seco, não falava, nem se mexia, mas prestava atenção que só vendo. Nem deu para acreditar. E nada do que ouvira era direcionado a ele, pobre mineirinho. Afinal, passa sempre por despercebida a sua presença naquela importante casa de leis do município.
Conheço-o bem, sei de seu temperamento, da sua seriedade. Quando um vereador desandou a atacar uma mulher ligada a determinada organização não governamental da cidade e mandou-a lavar roupas num tanque, para ter o que fazer, afirmando que ela comia sanduíche de R$ 30,00 em lanchonete da cidade, ele (o mineirinho) ficou mais possesso, ainda. Coitadinho. Do mineirinho, lógico.
Dias depois cruzei com o mineirinho e “p” da vida dizia que na sua cidade, lá prá cima nas alterosas aconteceu fato semelhante e surgiu um punhado de mulheres que queria tirar satisfação com o vereador (de lá). Fez um cabeçalho em folhas de papel almaço pautado, distribuiu pela cidade e colheu assinaturas num abaixo assinado; colheu duas mil assinaturas (a população de lá não chega a seis mil, ele disse) e, repudiou o ato imbecil do representante de seu povo.
Contou-me haver gente exaltada e teve uma senhora de cinqüenta e poucos anos que chegou dizer: “esse vereador é mais novo que o meu filho mais novo, não deve saber o que está falando, mas isso é um abuso, afinal, cada um faz o que quer, come onde quer, paga o preço que quiser e se tem tempo para fazer parte de sociedade não governamental, voluntariamente – quem bom pra nossa cidade, não é mesmo; vereador deveria cuidar de outras coisas e não da vida da gente”. Pelo que disse o mineirinho, a população se revoltou, e, não é para menos. Tem coisas mais importantes precisando da atenção de um (ou de todos) representante (s) do povo.
Sei não, mas não será surpresa se um abaixo assinado aparecer por aí, num ato de repúdio a alguns procedimentos que não são próprios de uma autoridade. Aliás, vereador é uma autoridade legislativa, e precisa se dar ao respeito, respeitando para ser respeitado, me disse ao pé do ouvido o mineirinho. Sangue bom, esse!
Ari Euqis é jornalista, mailto:www.arieuqis@jornalcanalaberto.com.br
* "ridendo castigat mores" - "rindo, castigam-se os costumes"
* "ridendo castigat mores" - "rindo, castigam-se os costumes"
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