Acidez do mar pode levar à extinção dos camarões
A espécie de camarão-de-sete-barbas, muito comum no
litoral brasileiro, pode ser extinta até ao final deste século por causa do
aumento da acidez da água do mar, de acordo com um estudo da Unesp
(Universidade Estadual Paulista).
Se as previsões se
confirmarem, milhares de famílias seriam prejudicadas. Um estudo da USP
(Universidade de São Paulo) mostra que só no litoral norte de São Paulo, nos
municípios de Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba, 88,4% dos
pescadores têm na captura do camarão-de-sete-barbas a principal fonte de
rendimentos da família.
O último levantamento do
Instituto de Pesca, do governo de São Paulo, informa que, em 2013, até o mês de
Setembro, foram pescados 1,077 milhões de quilos dessa espécie em todo o
Estado.
A acidez, neutralidade ou
alcalinidade dos oceanos é indicada pelo potencial hidrogeniónico, mais
conhecido como pH. Este varia numa escala de 0 a 14, sendo 7 o pH neutro.
Quanto mais próximo de zero, mais ácido é o meio. No Brasil, o índice é de
cerca de 8, mas até ao final do século deverá baixar, chegando a 7,7, segundo o
IPCC, Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da ONU (Organização das
Nações Unidas), o que deverá trazer consequências desastrosas para o
camarão-de-sete-barbas.
«De acordo com o IPCC, há 99%
de probabilidade do pH da água ser reduzido nos próximos séculos. Alguns
autores sugerem que até 2100 o pH pode ser reduzido em até 0,4, e até 2250 em
0,7», diz a investigadora Alessandra da Silva Augusto.
A alteração do pH nos oceanos
é verificada desde a revolução industrial, iniciada no século XVIII, e deve acentuar-se
por causa do aumento do dióxido de carbono, o CO2, no meio ambiente, em
decorrência da crescente industrialização, queima de combustíveis fósseis,
desmatamento e outros factores. O CO2 é dissolvido nos oceanos, tornando-os
mais ácidos, causando também a corrosão de conchas e esqueletos de vários
animais marinhos.
Para reverter essa tendência,
ou pelo menos amenizar os prejuízos, a primeira medida que os cientistas
sugerem é a redução da emissão do CO2, o que, no entanto, não seria suficiente.
«Também seria necessário adaptarmo-nos a algumas mudanças que provavelmente
irão ocorrer em relação aos recursos pesqueiros, construções de barreiras de
contenção devido à elevação do nível do mar», diz a pesquisadora.
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