quarta-feira, 5 de junho de 2013

Dia do Meio Ambiente - Cuidando da surdez

Para muitos a natureza é o próprio deus. Para mim, a mãe natureza é uma maravilha da criação divina. Compreendo-a como uma vida só e estou de pleno acordo com Eduardo Galeano, escritor uruguaio, quando diz que a natureza não é muda.

Do seu próprio jeito ela fala e há muitos anos está nos avisando que não suporta mais as agressões que vem sofrendo. Basta uma olhada sobre os números apontados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para compreendermos melhor que nossas atitudes preservacionistas, na prática, são desrespeitosas.

Com efeito, fazendo avaliações periódicas desde 1988, o INPE registra a gravidade do desflorestamento desordenado na Amazônia e também vem registrando o avanço do desmatamento em nossa Mata Atlântica. De 1988 até 2007 foram desflorestados 691.126 km2, o que equivale a 16,5% de todo o bioma amazônico no território brasileiro.

O agro negócio, a pecuária e a extração vegetal cresceram e muito no espaço amazônico. São os maiores responsáveis pelo desflorestamento e, se por um lado, estas atividades representam o progresso, por outro lado também representam uma grave ameaça.

Os números também não são muito animadores quando falamos da Mata Atlântica. Os pesquisadores brasileiros alertam que nos últimos anos houve uma redução de mais 8% da Mata Atlântica. Dela sobrava apenas cerca de 7% da mata original existente ao tempo da ocupação pelos portugueses, pois grandes extensões foram desflorestadas para dar lugar à agricultura, especialmente cana-de-açúcar e café, grandes riquezas da nossa econômica em diferentes ciclos.

Os pesquisadores alertam, o que é muito pior agora, é que o desflorestamento na Mata Atlântica está afetando gravemente o processo evolutivo das árvores nativas em trechos que restaram da floresta. Aqui em nosso quintal, por exemplo, os próprios mateiros denunciam que árvores outrora consideradas quase sagradas pelos nossos caiçaras, como o gueperubu, que era usada para fazer canoas, estão secando inexplicavelmente.

Na verdade, o sistema que rege a vida da floresta está em colapso pelo desaparecimento de aves – principalmente as de bico grande - e dos animais de médio e grande porte na região. Os poucos mangues ainda existentes estão sendo aterrados e destruídos importantes nichos de florestas que protegiam a mata principal, sem falar que apenas agora se demonstra, em nosso município, alguma vontade política de se por em prática a lei que disciplina a deposição dos resíduos sólidos.

Hoje é Dia Mundial do Meio Ambiente, hora própria para lembrar-nos que a natureza está cobrando atitudes preservacionistas concretas. É hora de nos lembrar que Chico Mendes, ambientalista assassinado em 1988 foi um destes cidadãos brasileiros que tomaram atitudes francas e abertas em prol da natureza, consciente de que, segundo afirmava ele, “primeiro pensei que minha luta fosse para salvar as seringueiras, depois a Floresta Amazônica, mas hoje eu percebo que minha luta é pra salvar a humanidade”.

É bem verdade que já demos alguns passos importantes neste sentido, como a inserção do capítulo sobre a defesa do Meio Ambiente na Constituição Federal, a criação do INPE, do ICMBio, a instituição da Política Nacional do Meio Ambiente, a Agenda 21, a criação de conselhos municipais, estaduais e nacional do meio ambiente e pela edição de importantes leis disciplinadores das situações impactantes ao meio ambiente. Tudo está acontecendo como uma espécie de resposta à luta de Chico Mendes, revelando-nos que sua morte não foi de todo em vão.

Mas, leis preservacionistas temos desde o tempo de colônia, como temos a boa vontade de servidores dos órgãos e agências governamentais que cuidam do meio ambiente.

Espelhando-nos em Chico Mendes, é hora de passarmos das teorias às atitudes de não agressão e às atitudes de restauração. Estas atitudes carecem de recursos específicos. É uma boa hora de mostrar vontade política e se pensar em priorizar a destinação de parte substancial dos recursos da exploração petrolífera (pré-sal) para a educação, proteção e restauração ambiental.

A mãe natureza não é muda. Mas, de nada adiantará os reclamos da mãe natureza, se nós, seus filhos, continuarmos nos fazendo de surdos, como nos fizemos de surdos durante todo este tempo.

Álvaro Alencar - Advogado

Caraguatatuba/SP

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