Moradias que serão afetadas,
valores a serem pagos, reassentamento daqueles que não têm titularidade da
terra imperaram durante a discussão da área a ser atingida em São Sebastião
Mara Cirino/Jornal Imprensa
Livre – 23/5/12
A preocupação sobre as reais
áreas a serem afetadas com as desapropriações para a construção do Contorno
Sul, no trecho de São Sebastião, foi o principal mote da audiência pública
realizada na noite de segunda-feira, no Teatro Municipal. O encontro reuniu
mais de 600 pessoas, sendo desta vez, moradores dos bairros Enseada, Morro do
Abrigo e região da Topolândia, locais que devem ter maior interferência da obra
a ser executada pelo governo do Estado.
A audiência foi conduzida
pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema), contou com a explanação do
Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) dos
técnicos do Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) e da JGP – responsável pela
elaboração do documento e durou cerca de quatro horas.
“Nossas vidas estão paradas por conta deste projeto. Deveria começar logo o cadastro para a gente saber o que vai fazer e quem está sofrendo com isso é a classe mais desfavorecida. Minha casa está próximo da área, mas não sei se vai ou não ser atingida. Temos de nos preparar psicologicamente”, disse o morador Edvan Silva de Jesus.
Preocupado também se mostrou
Oziel Cristino de Oliveira. Ele destacou que levou anos para construir sua casa
e não quer uma habitação popular. “Vocês precisam deixar claro os locais para
onde poderemos ser transferidos, quem será afetado, mandar alguém para
conversar com os moradores para explicar o que de fato vai acontecer com cada
um. É uma questão de igualdade e respeito”.
Varlez Brandão Santos
destacou a passagem da obra pelo Jaraguá ao lado do Centro de Controle de
Zoonoses e do Posto de Saúde. “Vai acontecer como no Rodoanel. É bom lembrar
que aqui tem uma vida de trabalho. A maioria dos moradores é imigrante, tem sua
posse cadastrada, mas como vai ter a titularidade da terra?”, questionou.
Já o professor Hipólito Carvalho Santana foi mais além. “Costa Norte só recebe estrada, lixão, usina. Tá na hora de se mobilizar porque aqui o que nós vemos é um terror. A população está apavorada. Cadê o Estudo de Impacto Humano? A força econômica do planalto vai matar uma região”.
Morador da Topolândia, João
Amorim destacou que “o Estado tem de parar de manipular a população
sebastianense, enrolando e não falando nada. Topolândia é o lugar mais afetado
e temos de bater o pé para termos resposta. Não somos contra o projeto, mas por
que não pegam o traçado antigo? Parem de brincar. Esta conta São Sebastião não
pode pagar! Façam corretamente a estrada que é importante para a região”.
Mais alterações no traçado,
inclusive com a descida passando por dentro das instalações da Petrobras
(Tebar) foram algumas das sugestões apontadas durante a audiência. “Ela é a
grande causadora do impacto ao tomar mais de 50% da área útil da cidade”, disse
Eduardo Melchert.
Irônico, Marcelo de Oliveira
Ferreira chegou a sugerir fazer uma ponte mais alta para fazer os apartamentos.
“É para lá que vão morar as pessoas que terão de sair de suas casas porque isso
que estão propondo aqui não é para mim, para meus filhos, mas para quem vem
para a temporada”.
O público ainda questionou as
empresas responsáveis pelo EIA/Rima sobre um traçado mais longo com túneis para
evitar as mais de 640 desapropriações previstas, com base em atualização de
2009.
O secretário do Meio Ambiente
de São Sebastião, Eduardo Hipólito do Rego, tomou a palavra para falar como
cidadão e ambientalista. “Falamos tanto de sustentabilidade e esse projeto só
vê a área comercial, não leva em consideração a questão humana e nem a
ambiental”.
Segundo ele, foram feitas várias solicitações para deixar os túneis, mas comercialmente não é bom para a empresa. “Se fizerem isso o projeto fica mais caro, mas quanto custa pessoas que têm teto para morar e terão de sair de suas casas? Quanto custa manter uma floresta em pé? Não, isso não é problema nosso, eles que se virem e paguem para ter a estrada que querem fazer. Deixem nosso patrimônio em paz e põe esse troço debaixo da terra!”, concluiu.
Segundo ele, foram feitas várias solicitações para deixar os túneis, mas comercialmente não é bom para a empresa. “Se fizerem isso o projeto fica mais caro, mas quanto custa pessoas que têm teto para morar e terão de sair de suas casas? Quanto custa manter uma floresta em pé? Não, isso não é problema nosso, eles que se virem e paguem para ter a estrada que querem fazer. Deixem nosso patrimônio em paz e põe esse troço debaixo da terra!”, concluiu.
Reassentamento
O gerente institucional da
Dersa, Ermes Silva, explicou aos presentes os procedimentos para
desapropriações, que ocorrem só no caso de a pessoa ter a titularidade da
terra. Desta forma será indenizada pelo valor de mercado. Caso seja área de
posse, as famílias são retiradas e vão para uma área de reassentamento
construída em parceria com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano
(CDHU) em área titulada, sem nenhum ônus para os reassentados. Neste ponto, os
questionamentos foram justamente sobre a falta de áreas com essas
características em São Sebastião.
Quanto ao clamor da
população, a socióloga da empresa JGP, Ana Maria Iversson, destacou que as
audiências são o primeiro processo para adequar o projeto para receber
sugestões e ver a sua viabilidade antes de receber a Licença Prévia (LP). “Só
após esse licenciamento começa a etapa de levantamento de dados, cadastros dos
moradores e das áreas a serem ocupadas. O momento para pleitear as alterações é
agora”, destacou.
Para minimizar impacto, desemboque pode sair no
Topovaradouro
Uma das alternativas para
evitar as centenas de desapropriações previstas para a região da Topolândia é
levar o acesso até o bairro do Topovaradouro e depois fazer a saída para chegar
ao Porto de São Sebastião. Essa foi uma das análises feita pelo prefeito de São
Sebastião, Ernane Primazzi, que entende que ali o impacto seria menor.
“Não é nada definido, mas as
sugestões têm de aparecer e este é o momento para levantarmos todas as
possibilidades”, disse logo após o encerramento da Audiência Pública. Primazzi
também é favorável à formação de uma comissão que possa discutir com mais
propriedades os impactos e das sugestões para melhorar a obra de implantação do
Contorno Sul no município.
“Não há mais possibilidade de
fazer discussões de cunho político. Elas precisam ser técnicas e objetivas
porque o contorno não tem como deixar de ser executado. Caso contrário, vamos
ter caminhões congestionando nosso trânsito e gente reclamando de ficar parado
mais de uma hora na avenida”, destacou.
O novo traçado conta com
quatro túneis, cinco interseções, cinco pontes e 31 viadutos, em uma extensão
de aproximadamente 31 quilômetros. Segundo o prefeito, cerca de 90% dos pedidos
feitos pela administração foram acatados, inclusive com a retirada da alça de
acesso que seria executada no bairro São Francisco.
Um ofício também foi
protocolado pelo secretário municipal de Meio Ambiente, Eduardo Hipólito do
Rego, com mais de 15 itens para serem avaliados em relação à execução da obra.
De acordo com Hipólito, não foi dada à secretaria, órgão ambiental local, a
oportunidade de elaborar seu exame técnico, previsto na Resolução Conama nº
237/97, aplicado por analogia aos licenciamentos estaduais.
“O EIA, da forma que foi
proposto, não atende a Legislação e aos princípios do Direito Ambiental,
apresentando-se demasiadamente falho, resultado da ausência total de diálogo
com os municípios da área de influência. Além disso, como instrumento de
política pública perpetua uma obra de pouca integração e desprovida do
necessário estudo de alternativas para mobilidade urbana”.
Falta de estudo de controle
de ruído, proximidades dos desemboques em locais com menos de 200 metros das
residências, falta de acessos vicinais para a execução de obras de túneis e
bota-fora sem indicação, entre outros, também foram protocolados pela
secretaria. (M.C.)
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