domingo, 20 de maio de 2012

Cetesb constata que esgoto em rios é um grande problema na região


Jornal Imprensa Livre mostra que a falta de saneamento básico no Litoral Norte está causando a morte dos rios locais

Saulo Gil/Jornal Imprensa Livre - 19/5/2012
Enquanto na orla do Litoral Norte “autoridades e ambientalistas” fomentam o debate em torno de assuntos como Código Florestal, ampliação do porto, contornos da Tamoios e até o já questionado aquecimento global, um mal “silencioso” vai tomando conta da região. De acordo com levantamentos da Cetesb, dos mais de 160 rios e córregos monitorados pela companhia quase a metade sofre com a presença excessiva de coliformes fecais em alguma medição do ano.

Ainda segundo os técnicos paulistas, o principal motivo pela contaminação é o despejo de esgoto doméstico nesses cursos d’água, seja diretamente, ou por meio do lençol freático. A falta de saneamento básico, principalmente nas comunidades instaladas nos sertões e nas periferias do Litoral Norte, está causando uma verdadeira morte dos rios locais.

Para a Cetesb, a atual situação é reflexo de um índice baixo de coleta e tratamento oficial do esgoto. Juntas, as quatro cidades da região coletam e tratam menos de 30% de todo esgoto doméstico produzido pelos quase 300 mil moradores da região. Além disso, essa carga fica ainda maior durante o verão, quando os turistas lotam os municípios e deixam por aqui suas necessidades fisiológicas.

Mas não são necessários todos esses dados da Cetesb, para que se desconfie que a poluição dos nossos rios é um fato real e crescente. Em cada região, de cada um dos quatro municípios, a população conhece alguma história que comprove tal degradação.

A transformação urbana, o crescimento populacional e a ocupação irregular trouxeram uma mudança brusca para os moradores caiçaras e mais antigos, principalmente, no que se refere à degradação da natureza e, consequentemente, das águas naturais. É o caso do Rio Acaraú em Ubatuba, que se no passado já foi utilizado como local para banho e lazer, hoje é um rio “morto” e um dos principais responsáveis por carregar a poluição fecal até a baia do Itaguá, tornando também a praia imprópria.

“A mudança foi até que rápida se formos pensar que há algum tempo o pessoal pescava e até navegava com canoas pelo Acaraú. Hoje é um rio completamente diferente. Poluído, mal cheiroso e assoreado. Mas acho que o pior mesmo é ele estar esquecido. Não existe um trabalho para cuidar do rio. Quando tem uma chuva mais forte os galhos caem sobre a água e acabam prendendo os objetos. Nesses dias desceu um sofá inteiro pelo rio e quase foi parar no mar”, conta o morador do Itaguá Beto Silva, ressaltando que as autoridades, além de não cuidarem da parte de saneamento, parecem despreocupadas com as situações dos rios.

“O pior é que quando alguém resolve tomar uma atitude para retirar os galhos e cuidar do rio aparece um monte de gente dizendo que não pode. O que não pode é ficar jogando esgoto, sofá, pneu. Isso sim deveria ser combatido”, completa Beto, indignado.

Essa não é uma realidade apenas do Acaraú, em Ubatuba. Segundo a Cetesb cerca de 10 grandes rios da região apresentam média de coliformes fecais acima do permitido para banho humano. Entre eles estão: Mococa, Nossa Senhora da Ajuda, Pereque-Mirim (Ubatuba), Tavares, Itamambuca, Una e Santo Antônio.

Além desse grupo que já sofre com uma poluição fecal crônica, outros importantes cursos d’água do Litoral Norte também estão em situação de alerta. Ocorre que o abastecimento de água das quatro cidades é totalmente contemplado por recursos próprios da região. Ou seja, a água fornecida pela Sabesp aos moradores de São Sebastião, Caraguatatuba, Ubatuba e Ilhabela é captada em rios da região.

E é por isso que o sinal de alerta sobre a poluição dos rios não fica apenas restrito à balneabilidade. Em Caraguatatuba, por exemplo, a Cetesb constatou em uma das medições feitas no ano passado uma piora na qualidade de água do Rio Claro, justamente no ponto onde o recurso é captado pela Sabesp para o abastecimento da população local.

Se para o fornecimento oficial de água, a poluição dos Rios gera problemas e maior dificuldade de tratamento, a situação é ainda pior para os milhares de cidadãos da região que residem em áreas irregulares. Nessas regiões sem regularização fundiária, a Sabesp se diz impedida legalmente de atuar, o que acaba obrigando a população a optar pelos diversos tipos de ligação clandestina.

Em recente matéria publicada pelo Imprensa Livre, a reportagem constatou uma situação de puro improviso. No bairro do Sesmaria, periferia ubatubense, dezenas de pequenos canos foram instalados em um curso d’água que serve de fonte para o abastecimento de diversas famílias do bairro.

Para os moradores, a clandestinidade se torna o único modo de sobrevivência em meio à ausência dos poderes públicos. “A gente tem que viver de algum jeito. Eu não entendo muito essa gente que fala que não pode ter água e luz nesse bairro, porque é para evitar o pessoal de vir morar aqui. Mas a verdade é que o bairro vai aumentando cada dia mais e todo mundo precisa de água”, diz a dona de casa Rosely Silva, defendendo e dando orientações sobre a captação clandestina.

“E é o seguinte, não adianta ser um cano curto, pois tem que colocar ele bem lá em cima perto da nascente. Tem de ser assim, pois se coloca mais para baixo, corre o risco da água já estar contaminada pelo lixo e esgoto de outras casas. Mesmo lá em cima a gente tem problema, recentemente notamos alguma coisa estranha na água e quando fomos ver tinha um cachorro morto bem perto da nascente”, contou a moradora do Sesmaria.

O problema se torna ainda mais grave, quando se conhece o número de famílias que vive como dona Rosely. Só em Ubatuba, a prefeitura estima que são quase 10 mil casas em situação de irregularidade fundiária. O montante representa quase a metade do número de famílias que vive na cidade. Ou seja, mais de 30 mil ubatubenses estão impedidos de receber o atendimento oficial de saneamento básico e, muitas vezes, também o abastecimento de água.

Nos municípios vizinhos, a realidade não é diferente. Milhares de pessoas moram e sobrevivem de forma clandestina nos diversos sertões do Litoral Norte. Segundo a Cetesb, esse cenário de impedimento legal de atuação dos órgãos oficias e de aumento populacional nas periferias da região gera cada vez mais riscos de degradação dos recursos hídricos do Litoral Norte, desde o menor dos córregos até a maior das praias.

Enquanto prefeituras, Sabesp e Governo do Estado se escoram em leis ambientais para não investir nos sertões da região, Ongs e associações tentam minimizar os danos ambientais por meio da mobilização e conscientização popular.

Ainda na cidade de Ubatuba, projetos como Cuidágua Indaiá e Itaguá Azul tentam levar à população a importância dos recursos hídricos e de sua preservação. No entanto, são ações pontuais e que sem a atuação dos poderes públicos acabam se restringindo a locais específicos e não trazem uma perspectiva de mudança da situação geral.

E é por toda essa realidade relatada, que esse texto pode ser concluído com o mesmo alerta do título. Atenção autoridades e ambientalistas: a vida dos nossos rios está em risco!

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