Ontem, terça-feira, era dia de sessão de Câmara em Caraguá.
É nas terças quando acontecem as sessões ordinárias, aquelas que já são previamente programadas para o ano todo, embora os vereadores tenham o péssimo hábito de mudá-las de horário, ao seu talante, autoproclamando-se "soberanos" para decidir sobre tudo que vai pelo plenário.
Era nessa sessão que o cidadão Carlos Viana iria se utilizar da Tribuna Livre, para a qual já se inscrevera havia mais de dois meses, para dizer, segundo ele, "umas verdades que precisavam ser ditas, mas que ninguém tinha coragem de fazê-lo”.
Carlos Viana, casadinho de fresco, é o popular Papudo, aquele que fala tudo que vem à boca, sem temer represálias. Por isso que é considerado figura folclórica na cidade. Segundo ele mesmo diz -- e as pessoas não duvidam disso --, é candidato a prefeito de Caraguatatuba nas próximas eleições, isto é, nas eleições do ano que vem!
Depois do recente episódio político Tiririca, o mais votado depois do falecido Enéas Carneiro, do Prona, não duvidamos de mais nada.
Estava doido para ir à sessão só para ver o Papudo falar. Ele fala bonito. Fala alto, grosso, gesticula-se bastante. Um perfeito estadista. Cita uma série de leis “de cabeça”. Se pertinentes ou não, ninguém sabe, ninguém confere.
Durante o dia de ontem, Papudo estava impaciente. Andava pelas ruas da cidade meio afobado, interpelando pessoas e já treinando o gogó com alguns "discursos" improvisados. Falando sempre alto, atraía a atenção das pessoas nas ruas, praças e lojas por onde passava. Rapaz, o bicho parecia que ia pegar no dia de ontem, a julgar pela "sede" que o Papudo estava de ter um microfone à sua frente.
Alguns arriscavam palpites sobre o quê, afinal, ele iria falar. Uns diziam que ia meter o pau no concurso da prefeitura. Outros, que ia dizer sobre a base de gás, que está fazendo a cidade encher de gente. Outros, que ia deitar falação nas pessoas que prometeram a festa do seu casamento, as fotos do casório, e que depois caíram fora. Pessoas importantes da cidade que, para variar, falharam na hora "agá".
Uma interrogação geral, que somente seria desvendada quando, afinal, Papudo regulasse o microfone da Câmara Municipal para a sua altura e soltasse o verbo. Suspense de fim de novela da Globo.
Juro que não queria perder por nada a oportunidade de assistir a esse discurso. Todavia, compromissos escolares indispensáveis impediram a minha presença na Câmara Municipal.
E por desgraça, já faz um bom tempo que a Câmara não transmite suas sessões nem pelo rádio, nem pela TV, nem pela internet. Reclamam de problemas técnicos. Assim, se quisesse assistir ao "palavrório", deveria estar presente de corpo e alma na assistência. Mas não dava.
Voltando tarde da escola, não encontrei ninguém pelo caminho que pudesse matar a curiosidade. Fui dormir assim mesmo, matutando sobre que sábias palavras haveriam de ter sido ditas diante dos vereadores pelo nosso querido Papudo.
Dormi sem saber de nada. Agora, acordado, escrevendo estas linhas, só me interessa uma coisa: alguém sabe o que o Papudo falou na sessão de ontem?
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