Escavações feitas durante a
obra de duplicação da rodovia dos Tamoios, no Vale do Paraíba (SP), revelaram
vestígios da presença de índios de tradição cultural aratu, que habitaram o
país entre os séculos 10 e 14.
São milhares de peças de
cerâmica --como fragmentos de potes, tigelas e urnas funerárias-- e ferramentas
de pedra lascada, espalhadas por uma área de 5.000 m2 na altura do km 28 da
estrada, em Paraibuna (124 km de SP).
Pela quantidade de material
encontrado, em um ponto que era cortado pelo rio Paraíba do Sul --desviado para
a construção da usina de Paraibuna--, supõe-se que havia uma grande aldeia no
local, com centenas de pessoas.
ONDE FICA
O sítio arqueológico, com cerca de 5.000m², fica na altura
do Km 28 da rodovia, em Paraibuna /SP, próximo à margem do lago da usina de
Paraibuna, local no passado ocupado pelo rio Paraíba do Sul.
Para a equipe envolvida nos
trabalhos, a descoberta ajuda a montar o quebra-cabeça da ocupação humana nesta
região de São Paulo, onde a tradição tupi-guarani sempre foi mais comum.
"A descoberta confirma a
presença dos aratus no Vale do Paraíba e a importância do Paraíba do Sul para a
população ao longo das gerações", diz o arqueólogo Wagner Bornal,
contratado pela Dersa (estatal de estradas de São Paulo) para o trabalho.
O QUE FOI ENCONTRADO
Fragmentos de utensílios
cerâmicos (tigelas, potes) e urnas funerárias, além do material lítico lascado,
usado como ferramentas de corte e perfuração – estimados em pelo menos 600 anos
de idade.
|
Até então, havia apenas dois
outros sítios com vestígios dos aratus na região: em Santa Branca (95 km de SP)
e em Caçapava (116 km de SP).
Ceramistas e agricultores, os
aratus viveram antes da colonização portuguesa, sobretudo no Nordeste. Não há
consenso sobre o que levou ao desaparecimento de sua cultura --a hipótese mais
provável é que eles tenham se mesclado com outras etnias.
Os primeiros estudos que
identificaram essa cultura foram publicados no final da década de 1960.
Considerada "mãe"
da arqueologia amazônica, Betty Meggers (1921-2012), e o marido, Clifford Evans
(1920-1981), encontraram 24 sítios aratus no Recôncavo Baiano.
Hoje há registro de vestígios
dessa cultura no Nordeste e nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e
São Paulo, onde o sítio Tamoios 1 é o mais recente.
Os índios dessa tradição
viviam nas imediações de cursos de água perenes. Cultivavam milho, feijão, mandioca
e amendoim. Também trabalhavam o algodão. A cerâmica produzida por eles era
alisada, sem traços decorativos.
Detalhae de peça cerâmica
atribuída aos aratus
|
Também usavam grandes potes
como urnas funerárias, material encontrado em abundância no sítio na Tamoios
--muitas peças praticamente na superfície, sob apenas 40 cm de terra.
O local está fechado para
pesquisas. Os arqueólogos querem transformá-lo em sítio-escola para visitas
monitoradas, proposta que ainda será analisada.
"O sítio tem um
potencial informativo e científico, pois ajuda a completar uma lacuna sobre a
ocupação do Vale do Paraíba", afirma Bornal.
Segundo a Dersa, o sítio não
sofrerá impacto das obras da Tamoios. A descoberta foi reconhecida pelo Iphan
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e o material será
catalogado e disponibilizado ao público.
RICARDO
HIAR/ PARA A FOLHA
Editoria de
arte/Folhapres
Caraguablog/JFPr
0 comentários:
Postar um comentário