sexta-feira, 27 de julho de 2012

Leitor sustenta que mandato de vereador deve ser gratuito

O Caraguablog publicou dias passados matéria alusiva à campanha que corre na internet para que o mandato dos vereadores do Brasil voltem a ser gratuitos. Como era, aliás, até meados dos anos setentas.

Pedimos, na oportunidade, que escrevessem dando sua opinião.

O assunto é polêmico. E como tal apresenta bons argumentos a favor e igualmente outros bons argumentos em sentido contrário.

Cada um deve ter o seu ponto-de-vista a respeito da questão. Mas é só ouvindo as razões de um e outro lado é que se pode serenamente formar uma ideia sobre o assunto.

Abaixo, transcrevemos o e-mail do senhor Aloísio Antunes, lembrando que a opinião (que respeitamos) é exclusiva do missivista e não do Caraguablog:

Até 1976, nenhum vereador ganhava um centavo pelo exercício do mandato e não consta que os vereadores daquela época eram menos eficientes que os atuais. Muitos até afirmam o contrário: que eles é que trabalhavam de verdade, davam duro, faziam o que faziam por amor à cidade.

O trabalho do vereador daqueles idos era considerado serviço público relevante, sem qualquer contraprestação de ordem pecuniária. Mesmo sob pressão, sabiam decidir o que de melhor se aproveitava para a sua comunidade e não faltavam às sessões e aos debates no cumprimento do seu dever cívico.

Hoje a política legislativa de nível municipal está “profissionalizada”. A crítica aponta que a atividade de vereador, para a maioria deles, virou um negócio rendoso, descambando, não raro, como regra, para a negociata, empreguismo, para a corrupção.

A crítica apresenta a natureza do trabalho legislativo como algo trivial, repetitivo, sem  complexidade que exija conhecimentos ou dedicação especial para o deslinde das chamadas causas públicas. Que não se legisla mais pela paixão, pela vontade de “servir a”, pelo amor. Mas pela ganância do “servir-se de” - pelo valor.

Parece ocorrer em quase todas as Câmaras Municipais um trabalho essencialmente burocrático, enfadonho, esmaecido, autômato, mas calculado, ambiciosamente calculado. Tal o do comerciante atrás da mesa expositora.

Não é novidade que políticos municipais ocupam sessões legislativas inteiras com projetos de somenos importância, dando nomes de rua, de escolas, pedidos para passar máquina em ruas, pôr lâmpadas em poste. E dando títulos de cidadania, muitos títulos de cidadania – a torto e a direito, muitos em troca de favores e benefícios pessoais.

Fiscalizar? Segundo críticos, eles costumam passar ao largo dessa obrigação inerente ao cargo. Em lugar de fiscalizar, preferem aliar-se ao “fiscalizado” em troca de favores políticos e até de dinheiro. Seria a prática dos famosos mensalinhos, conhecidos no nível federal como “mensalões”, e tão comuns nas barganhas de apoios políticos por esses brasis afora.

Ah! Ainda existiriam os contratos administrativos. São contratos e mais contratos que ninguém entende o porquê. Contratam até empresas para gerenciar os contratos produzidos “a la merdança”, para isso ou para aquiloutro, para consertar até o que já funciona.

E quanto aos funcionários? Mais uma vez uma lástima. Repartições inteiras inflam-se deles sem qualquer acréscimo de serviço que justifique. Os cargos comissionados, aqueles cujo QI é o “quem indica”, nascem, crescem e florescem como as ervas daninhas no esterco.

Vejam bem, não se está apontando esta ou aquela câmara legislativa em especial. Esta é uma generalidade.

Esta é a crítica que corre no país a respeito do exercício da vereança, seguindo exemplos de políticos de esferas maiores, todos eles ajudando a forjar a máxima de que mandatos políticos neste país são uma espécie de franquia para roubar, fraudar, desviar, dilapidar,  surrupiar, parafraseando aqui a Paulo Francis.

Fala-se da regra. Uma regra que, como boa regra, comporta suas raríssimas e honrosas exceções. Ao menos, deveria.

A verdade é que são tantos os desvios e safadezas por este imenso país, denunciados exaustivamente na imprensa, que às vezes realmente nos perguntamos se vale a pena remunerar vereadores e, por via de conseqüência, os demais políticos nessa ciranda da corrupção.

Pelo que os políticos fazem hoje (não todos, frise-se), pelas práticas a que se acostumaram nestas décadas, ironicamente chamadas democráticas, pagar o seu trabalho seria o mesmo que remunerar aquele pula o muro para subtrair.

Por criminoso, não merece receber aquele que se dispõe a surrupiar. Por omisso, não merece ser remunerado quem se acomoda ao meio, finge que nada vê, e queda-se calado.

Não merece paga uma categoria que só nos mata de enjôo e revolta a cada nota do jornal.

Basta de Estado criminocrata!

Aloísio Antunes
(por e-mail ao Caraguablog)
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