quinta-feira, 14 de junho de 2012

Audiência pública sobre projeto de novo píer da Petrobras tem 100% de rejeição popular


Leonardo Rodrigues/ Jornal Imprensa Livre 13/6/2012
A audiência pública realizada pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente de São Paulo (Consema) nessa segunda-feira, sobre a construção de um novo píer no Terminal Almirante Barroso (Tebar) no Canal de São Sebastião não registrou sequer uma manifestação positiva, ou favorável ao projeto da estatal. Contudo, a audiência não tinha caráter deliberativo, apenas consultivo.

A equipe da Petrobras responsável pela apresentação do projeto do novo píer se baseou no Relatório Ambiental Preliminar (RAP). Segundo eles, o RAP, de 1.500 páginas, foi elaborado de acordo com roteiro elaborado pela Cetesb. Tal roteiro sugerido pelo Estado em 2010 resultou em uma apresentação com discurso de impactos positivos.

Ausência de reais impactos que podem trazer danos a região foram sequer mencionadas durante apresentação do Diagnóstico Ambiental da Petrobras. Entre tais impactos não expostos está a pressão sobre a população pelo aumento do trafego de veículos, máquinas e conflitos de interesso social. Tal impacto foi classificado como de importância média. Em suma a empresa afirma em seu diagnóstico que o empreendimento é ambientalmente viável.

Visão política
O primeiro a fazer uso da palavra entre a plateia foi o chefe do Executivo sebastianense, Ernane Primazzi. Ele ressalta que até o momento não houve nenhuma solicitação de análise técnica sobre o projeto, da Petrobras ao município. Ernane também sugeriu a inserção da criação da Área de Proteção Ambiental (APA) Marinha Alcatrazes como medida mitigadora dos impactos a serem herdados pela região com o empreendimento.

O prefeito sebastianense também destacou que as operações na cidade não se resumem a estancagem, mas também em beneficiamento do petróleo. “O petróleo que chega aqui, não é o mesmo que sai. Queremos que isso seja considerado”.
Ele trouxe também questões quanto a tributos. Segundo o prefeito, há uma diminuição na arrecadação dos ICMS nos últimos anos. O que contrastaria com o crescimento de produção da estatal. “Pedimos que seja feita uma justiça fiscal dentro dessa situação”.

O tom contrário ao projeto ganhou coro do prefeito ilhéu, Toninho Colucci, que confessou ter se assustado com a apresentação. Ele repudiou a classificação de Ilhabela como Zona de Influência Indireta. “Colocar a ilha na mesma forma que Bertioga? Me desculpem, mas parecem que não conhecem o que falam”, desabafa.

Toninho Colucci ainda destaca que a apresentação do projeto não considerou os veleiros. “Ilhabela é a capital nacional da vela e sequer foi citado nas embarcações previstas”, queixa-se o prefeito de Ilhabela que ainda considera que a metade do canal será tomada pelo píer.

Colucci ainda requer a realização de uma audiência pública na ilha e destaca que compensações financeiras não asseguram a viabilização do projeto. “Dá a impressão que se der royalties, tudo se pode fazer. Mas esses royalties podem nem acontecer”, fala o prefeito sobre a discussão da partilha dos royalties no Congresso.

O pré-candidato a prefeito de São Sebastião, do PSOL, João Amorim, disse que se fosse um juiz o veredicto já estaria dado: “Este projeto está condenado”. Para ele a apresentação do projeto no teatro foi uma brincadeira com a população que não abordou impactos sociais.

“A Petrobras é hipócrita. Ela está aqui desde 1969, por que não formaram profissionais? Por que não tem um hospital digno em São Sebastião? Falo com emoção, mas com a razão também”.

Outro pré-candidato em São Sebastião, Fernando Puga do PT, contestou o dado da Petrobras que estima gerar até 800 empregos diretos e quatro mil indiretos com as obras que terão a duração de três anos. Puga afirma que o Terminal opera com cerca de 150 funcionários contra mais de sete mil pessoas que vivem do Turismo e do poder público local. “Então a Petrobras não é a maior empregadora da região”.

Mais manifestações
Jorge Greco, da Real Norte-LN, também fez uso da palavra para requerer uma análise de impactos acumulativos dos empreendimentos da Petrobras e da ampliação do Porto de São Sebastião.

O ambientalista Luiz Felipe destacou que aproximadamente 2 quilômetros do Canal serão tomados pelo píer. “Perder um por do sol, por uma barreira de navios não é pouca coisa para quem vive do Turismo”.

Roberto Blair, do Conselho de Meio Ambiente sebastianense, ressaltou que as constantes atividades da estatal, a longo dos anos, trazem o risco de contaminação em peixes por substâncias tóxicas, cancerígenas. “O empreendimento está incluso na área de proteção ambiental de Alcatrazes”, alerta.

O sebastianense Wallace Moreira pontuou que os royalties não são benefícios, antes impostos pagos. “Se ocupa e usa o espaço, então paga-se imposto. Todos nós pagamos impostos”.

O advogado Samir Toledo demonstrou que a empresa desconsidera os caiçaras em seus impactos ambientais previstos. Ele relembrou do incidente no Itatinga, Região Central sebastianense, onde borras de petróleo surgiam nas casas.

Assim, Toledo requereu que se registrasse em ata que a população afirma ser pressuposto à obra a criação de um tratamento a queimados, maximização de atendimento em UTI, além de abordar em um Plano de Ação as expectativas de rota de fuga, em casos de acidentes, na avenida central Guarda Mor Lobo Viana. Ações essas que seriam viabilizadas pela Petrobras. “A mesa (condutora da audiência) é inteligentíssima pelo debate. E nós voltamos para a casa com a sensação de que não viemos”, dispara.

Por fim, Gerson Rocha de Oliveira, membro do Consema, avalia que o projeto é insustentável e apresentação péssima em uma audiência prévia a Rio + 20, que prima pela sustentabilidade, e tem o patrocínio da Petrobras. Oliveira elencou que a sustentabilidade é baseada no social, econômico e ambiental, e o projeto peca nos três fundamentos.

Petrobras
Em defesa ao projeto, apenas seus coordenadores e demais agentes da Petrobras. Não se tem conhecimento de uma manifestação popular positiva à construção do novo píer. Segundo os responsáveis pela apresentação do projeto da Petrobras, a construção do novo píer no Tebar vai reduzir pela metade o tempo de espera dos navios que operam no terminal, o que resultará em diminuição do número de embarcações fundeadas no Canal de São Sebastião. O projeto prevê a construção de dois novos berços de atracação no terminal, que hoje conta com quatro berços.

A retórica da estatal diz que os berços adicionais contribuirão ainda para melhorar a confiabilidade do suprimento de petróleo às refinarias de Cubatão (RPBC), Capuava (Recap), São José dos Campos (Revap) e Paulínia (Replan), responsáveis pelo abastecimento do Estado e da Região Centro Oeste. Além de fornecer combustíveis para estados do Nordeste.

A empresa salienta que a obra da Transpetro não tem relação com o projeto de ampliação do Porto de São Sebastião, da Companhia Docas de São Sebastião (CDSS). A previsão diz ainda que construção do novo píer não demande obras em áreas terrestres, uma vez que não há previsão de ampliação do Tebar. Não haveria, também, necessidade de dragagem, já que a profundidade natural do Canal é suficiente para atender os navios que vão operar nos novos berços. Maior terminal petrolífero do País, o Tebar é responsável por 50% da movimentação nacional de petróleo.

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