A fartura de peixes que se viu nesta Semana Santa na cidade, principalmente no entreposto de pesca do Camaroeiro, não passa de uma farsa. Um engano, uma mentira. Nunca capturamos salmão em nossas águas, mas no entreposto havia salmão à venda, um peixe alienígena, importado de países de águas frias
Pesca: uma atividade que agoniza... |
Longe de ser um “reduto de pescadores”, o entreposto de pesca da cidade não passa de um local de “vendedores de peixe”. Eles não têm culpa por isso, pois a necessidade de sobreviver fala mais alto em qualquer circunstância e não resiste à lógica do estômago.
A pesca caminha para o caos? |
Daqui a alguns anos, se nada for feito para conter es
se crescendo, os peixes terão sumido de nossas águas e com eles uma atividade tão antiga quanto a própria presença humana na Terra.
se crescendo, os peixes terão sumido de nossas águas e com eles uma atividade tão antiga quanto a própria presença humana na Terra.
Se é verdade que filho de peixe, peixe sempre foi, o mesmo já não acontece com o pescador. Seus filhos, daqui para a frente, podem deixar de praticar a profissão aprendida com o pai e avô, quebrando uma tradição secular. Eles terão de encontrar outro meio para sobreviver. A pesca já não é atrativa e a atividade, na sua forma tradicional, tal como a conhecemos, tende ao desaparecimento.
Barcos: falta dinheiro para reforma |
Para Sebastião de Oliveira Souza, o Tião Bota, 61, pescador antigo da cidade, é uma constatação verdadeira essa do desaparecimento dos peixes. “É raro hoje em dia uma pescaria farta. Cação, enchovas, robalos, tainhas, corvinas, sororocas, faz tempo que se tornaram artigos de luxo. O mesmo se diz em relação ao camarão. Tem barco que pesca a noite inteira, queimando óleo caríssimo, para capturar uma quantidade de camarão que não paga nem a despesa com o diesel. Uma lástima”, declarou.
Tião Bota |
Tião Bota afasta a tese de que isso acontece por imprevidência dos próprios pescadores artesanais. “A culpa do desaparecimento dos peixes e do camarão é das traineiras, das parelhas. O sistema de pesca por parelhas, com sofisticados instrumentos eletrônicos para localizar cardumes, e quilômetros de redes puxadas por barcos monstruosos, é o que está exterminando a fauna marinha. Menos de 20% dos peixes e crustáceos capturados têm valor comercial. O restante, em pás, é descartado no mar, já mortos. Normalmente, são peixes pequenos, filhotes, que morrem antes de atingir a fase adulta. Não há tempo para o repovoamento das espécies e é isso que está levando ao desequilíbrio hoje sentido pelos pescadores.”
Peixes-espadas |
A falta de uma fiscalização das atividades de parelhas, com pesadas sanções pelo descumprimento de normas impostas pelo Ibama, é o que mais preocupa e contribui para o fim das espécies, acrescentou. “Todos sabem disso, mas ninguém faz nada. Nem se tem notícia se a polícia ambiental possui equipamentos suficientes para esse tipo de atuação preventiva e repressiva, como lanchas, naves, recursos financeiros, pessoal treinado e outros necessários ao combate da pesca danosa. A impunidade tem sido a maior aliada daqueles que destroem o ecossistema, indispensável à renovação das espécies, pelo simples interesse do lucro fácil. Daqui a dez anos, a pesca artesanal terá desaparecido por completo”, completou.
Tainhas |
Ainda com relação às tainhas, o pescador afirmou que há outro fator a ser levado em conta, já que se trata de espécie que migra de uma região para outra na época da reprodução. Ele afirmou que os cardumes do sul não estão chegando às águas da nossa região, para procriar, pois são abatidos em pleno curso por centenas de embarcações especialmente preparadas para pesca de tainhas. Toneladas do peixe em fase de desova são mortas para abastecer os mercados interno e externo. “Esse tipo de pesca chega ser crime ecológico. Por isso, a tainha está sumindo de nossa região e em breve vai acabar”, lamentou.
Corvinas |
“Em determinadas épocas do ano a pesca do camarão é fechada e nesse tempo os pescadores recebem auxílio financeiro do governo para subsistirem. Quando a pesca reabre, temos fartura do produto. O mesmo deviam fazer com o peixe: fechar a pesca por pelo menos dois anos, principalmente a pesca de parelhas. Em relação às tainhas, a pesca deveria fechar todo ano, de maio de julho, época da desova. Depois disso, o que vamos ter será abundância de pescado na região e a garantia da pesca como atividade econômica para um grande número de famílias de pescadores tradicionais”, finalizou.
Fotos: Caraguablog
O Blog de Caraguá - k
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