As
Paulistinhas, pequenas imagens sacras feitas de barro, seguiram, durante
séculos, como companheiras nas preces do caboclo vale paraibano em suas agruras
diárias
Caraguatatuba recebe neste sábado (18/6), às 14h, na
Videoteca Lúcio Braun, a palestra “Paulistinhas – Um elo entre o Vale do
Paraíba e Portugal – Produção de Imagens Sacras de Barro”, e das 15h às 18h, na
Praça do Caiçara, uma oficina de Modelagem em Argila, ambas as atividades com o
mestre de cultura popular Magela Borbagatto.
Do final do século 18 até o início do século 20, o Vale do
Paraíba foi referência em um estilo rudimentar e peculiar de arte sacra que
marcou época no país. Batizado de Paulistinhas, o gênero é uma apropriação
valeparaibana de elementos marcantes das esculturas populares portuguesas. As
nuances históricas e estéticas deste importante período para a arte da região
são tema da atividade “Paulistinhas: Um Elo Entre o Vale do Paraíba e
Portugal”.
O curso ministrado por Borbagatto estabelece esta relação
entre as peças brasileiras e as portuguesas, além de proporcionar aos
participantes a prática da modelagem em argila nos mesmos moldes das técnicas
utilizadas na época. Promovendo essa experiência, o artista tem se empenhado
num trabalho de preservação histórica fundamental para manter viva a memória
deste que é um dos principais períodos da arte popular valeparaibana.
“Apesar da importância histórica, a arte Paulistinha é
pouquíssimo conhecida aqui no Vale. Durante as atividades, traço esse paralelo
com a arte sacra portuguesa, além de abordar os motivos que tornam este período
tão rico e importante para a produção artística da nossa região”, explica.
Após séculos de prosperidade no Vale do Paraíba, o ciclo
das Paulistinhas começou a terminar a partir do início do século 20, quando as
figuras de gesso, baseadas em técnicas italianas, ganharam espaço. Atualmente,
Magela compõe um time de pouquíssimos artistas que ainda preservam a técnica.
As atividades, promovidas pela Oficina Cultural Altino
Bondesan, de São José dos Campos, têm entrada franca e classificação livre. A
Videoteca Lúcio Braun e a Praça do Caiçara estão localizadas no Polo Cultural
Profª Adaly Coelho Passos, nº 72, no Centro de Caraguá. Mais informações: (12)
3883.9980.
Paulistinhas
As Paulistinhas, pequenas imagens sacras feitas de barro,
seguiram, durante séculos, como companheiras nas preces do caboclo vale
paraibano em suas agruras diárias. Mesmo assim, por pouco estas figuras e suas
técnicas de confecção não caíram no completo esquecimento. O tesouro artístico
de amplo valor histórico foi resgatado pelo trabalho de pesquisa que Borbagatto
vem desenvolvendo há cerca de 20 anos.
De acordo com o artista, as peças contam com alguns
elementos em comum que facilitam o seu reconhecimento. Diferente das rebuscadas
imagens barrocas da época – provenientes da então rica e letrada Minas Gerais
–, as Paulistinhas eram peças desenvolvidas basicamente para os pobres. Sua
matéria-prima é o barro, muito mais acessível do que a madeira, onde os
artistas barrocos talhavam suas obras. Os poucos adornos, a economia nas cores
e o fato de serem ocas por dentro são outras características fundamentais nas
imagens.
Em seu trabalho de redescobrimento e preservação desta
arte, Magela Borbagatto encontrou um inconteste laço de identidade entre as
peças confeccionadas no Vale do Paraíba e aquelas feitas na cidade portuguesa
de Estremoz. A famosa região lusitana de artesãos do barro (cuja arte está
prestes a ser declarada patrimônio cultural imaterial pela Unesco) traz, em
suas obras, os mesmíssimos elementos encontrados nas figuras confeccionadas em
nossa região.
“As figuras daqui utilizam-se das referências portuguesas
com uma tecnologia do Vale do Paraíba. Possuem em comum o formato icônico, a
figura modelada em cima de uma base em formato de saia ou facetada, são ocas
até a altura da cabeça e de uso popular e doméstico”, comenta.
Origens
De acordo com o artista, há divergências sobre as origens
da arte Paulistinha no Vale. O mais provável é que o estilo tenha sido trazido
por um artesão militar português, natural de Estremoz, que aportou no Brasil em
1773 junto com seu batalhão para guerrear no Rio Grande do Sul. Terminado o
confronto, ele teria vindo, em companhia de outros militares, para o Vale do
Paraíba, onde instalou-se e passou a produzir seus materiais.
Outra teoria, menos aceita, é de que um serviçal jesuíta
da época dedicou-se a difundir as técnicas enquanto esteve na região. O fato é
que, de um jeito ou de outro, o estilo prosperou nas cidades de Taubaté e
Guaratinguetá, disseminando-se, mais tarde, para o restante do Vale do Paraíba.
SERVIÇO
Palestra “Paulistinhas: Um elo entre o Vale do Paraíba e
Portugal” - Dia 18/6 – sábado – das 14h às 15h Videoteca
Lúcio Braun (Polo Cultural Profª Adaly Coelho Passos) - Entrada Franca
Oficina
de Modelagem em Argila - Dia 18/6 –
sábado – das 15h às 18h - Praça do Caiçara (atrás do Polo Cultural Profª Adaly
Coelho Passos) - Entrada Franca
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